BIO

“Não há nada comparável no mundo das imagens”

Hélène Cixous, após ter assistido ao filme "A Paixão Segundo G.H." no Cinéma L'Arlequin, em Paris

“Se o filme possui uma tal força encantadora, é porque Luiz Fernando Carvalho sabe que tudo começa lá, nesta primeira maneira de nascer no mundo, de se deixar arrebatar por ele, de degustar cada momento inesperado”

Jean-Philippe Tessé

Cahiers du Cinéma

“Do velho arcaico ao jovem arcaico, hipnótico, mestre de si e de todos nós”

Bernardo Bertolucci

“É muito difícil ver filmes de exceção, com compromisso de busca da criatividade”

Fernando Solanas

“A primeira sequência (…) lembra as pinturas de Caravaggio (…) as cenas de refeições parecem iluminadas por Georges de La Tour (…) a duração dos planos evoca Tarkovski. Uma obra poderosa, ardente e atormentada, de uma resistência ao pobre cinema de hoje.”

Sophie Grassin

Première

Luiz Fernando Carvalho é um cineasta e diretor de televisão brasileiro, conhecido por trabalhos com forte relação com a literatura e que representam uma renovação para a estética do audiovisual brasileiro.[1]

Alguns críticos aproximam as realizações de Luiz Fernando Carvalho ao movimento do Cinema Novo brasileiro[2] e a diretores ícones da história do cinema: Luchino Visconti e Andrei Tarkovski.[3] A experimentação visual e de linguagem[4] é uma das características de sua obra, bem como a investigação da multiplicidade da identidade cultural do Brasil.[5] Constituem elementos da poética do diretor: o estilo barroco[6][7][8] de sobreposições e cruzamentos entre gêneros narrativos, a relação com a instância do Tempo,[9] os símbolos arquetípicos da Terra e a reflexão sobre a linguagem do melodrama social e familiar.[10]

Os trabalhos com assinatura do cineasta foram sucesso tanto de crítica quanto de público. Dirigiu o filme Lavoura Arcaica (2001), baseado no romance homônimo de Raduan Nassar, apontado pelo crítico Jean-Philippe Tessé, na revista francesa Cahiers du Cinéma, como “uma promessa fundadora de renovação, de uma palpitação inédita no cinema brasileiro desde Glauber Rocha[11] e ganhou mais de 50 prêmios nacionais e internacionais.[12]

“A Moving and desperate work like that of a tropical Pasolini”
LE FIGARO

Estudante de Arquitetura e Literatura na universidade, o cineasta já filmou romances de grandes escritores como Raduan Nassar (Lavoura Arcaica), Clarice Lispector (A Paixão segundo G.H. e Correio Feminino), Ariano Suassuna (Romance d’A Pedra do Reino), Milton Hatoum (Dois Irmãos), Machado de Assis (Dom Casmurro), Roland Barthes (Fragmentos de um Discurso Amoroso), Eça de Queirós (Os Maias), José Lins do Rego (Riacho Doce) e Graciliano Ramos (Alexandre e Outros Heróis).

O processo colaborativo é um dos pilares fundamentais do trabalho do diretor, que desenvolveu um método a partir do cruzamento de várias técnicas, desde os procedimentos teatrais, passando pela investigação das linguagens do corpo, até o trabalho com as máscaras da commedia dell’arte e os rituais xamânicos dos povos indígenas brasileiros.

Luiz Fernando Carvalho estreou como diretor e roteirista aos 24 anos com o curta-metragem A Espera, premiado com Concha de Oro no Festival Internacional de Cine de San Sebastián (Espanha), Melhor Curta no Festival de Gramado e Prêmio Especial do Júri no Festival de Ste Therèse (Canadá).

Em 2001, lançou seu primeiro longa-metragem, Lavoura Arcaica, sucesso de crítica e público. O filme recebeu mais de 50 prêmios internacionais e nacionais: Melhor Contribuição Artística do Festival de Montreal, Prêmio Especial do Júri em Biarritz, Melhor Filme Crítica e Público no Festival Internacional de Cinema Independente de Buenos Aires, Prêmio Especial do Júri do Festival de Havana, entre outros.

Na televisão, o diretor realizou projetos que marcaram a história com enorme repercussão de crítica e público, como as séries Os Maias, Hoje é dia de Maria, Capitu, Suburbia, A Pedra do Reino, Correio Feminino e Afinal, o Que Querem as Mulheres? e as novelas O Rei do Gado, Renascer, Meu Pedacinho de Chão e Velho Chico, finalista do International Emmy Awards. Entre as inúmeras séries que criou e/ou dirigiu, estão também Hoje é Dia de Maria, Alexandre e Outros Heróis e O Auto da Nossa Senhora da Luz, (finalistas em diversas categorias do International Emmy Awards); Os Homens Querem Paz (finalista do The New York Festivals) e Giovanna e Enrico (selecionada como Hors Concours no Festival Banff).

Em 2023 realiza o longa-metragem “A Paixão segundo GH’, a partir do romance de Clarice Lispector. O filme foi selecionado para os festivais de IFFRotterdam (2023), BAFICI 25º (2024), laureado com o Grande Prêmio e Prêmio Melhor Atuação, FILMADRID (2024), com duas menções especiais do Júri para o filme e atriz, e Festival de Filmes Terra Di Siena na categoria Melhor Filme, assim como Maria Fernanda Cândido, como Melhor Atriz.

A obra foi celebrada pela crítica após as exibições nos festivais do Rio, MOSTRA de São Paulo, Roterdã e Buenos Aires[24].

O crítico Carlos Alberto de Mattos descreveu o filme como extraordinário, corajoso e requintado não se amofina diante dos desafios do original. Em vez disso, mergulha no seu tecido escamoso e delirante para daí extrair uma pérola de cinema.[2]

“A prosa altamente filosófica de Clarice Lispector encontra uma representação cinematográfica que supera todas as expectativas. O filme combina o confessional, o experimental e o psicológico para alcançar um horror existencial com ecos de Através de um espelho (1961), de Ingmar Bergman, e Repulsa ao sexo (1965), de Roman Polanski”
—Cristina Álvarez López, IFF Rotterdam[23]

Para a crítica Mónica Delgado / Rotterdam, a potência dos monólogos é explorada por Carvalho desde uma predominância do primeiro plano. E assim, o diretor brasileiro dialoga com os mais de noventa anos de A Paixão de Joana d’Arc, de Carl Theodor Dreyer.

“Filme ‘A Paixão Segundo G.H.’ é como saborear a conquista do impossível. Há que se discutir se algum artista já conseguiu isso. Clarice chegou perto. Carvalho e Candido também”
—Walter Porto, colunista, na Folha de S. Paulo[3]